Ahh...tantos momentos que marcaram! São incontáveis. O primeiro dia na residência, a adaptação, os termos desconhecidos e anotados para estudo, a primeira martelada numa haste de Kuntscher, a primeira cirurgia de uma delicada mão, o primeiro plantão, as exaustivas limpezas das fraturas expostas no PS., o primeiro mega CBOT, os erros e a aprendizagem com eles, as duvidas, o alivio da dor de um paciente, o olhar agradecido de uma mãe, a osteossíntese concluída com sucesso e aquela que não deu certo, o medo de não conseguir o tão desejado TEOT , as cobranças dos chefes, a falta de tempo para tudo, o sono interrompido.... Acho que vivemos momentos inesquecíveis todos os dias na nossa formação e na profissão. Sou grata por tudo isso! Viveria tudo outra vez!
Sempre fui atraída pelos desafios e por fazer diferente da maioria. Estava no final do 4° ano da graduação e um professor convidou alguns acadêmicos para ajudar os ortopedistas do pronto- socorro municipal; um grupo de dez estudantes, sendo eu a única mulher. Queria apenas aprimorar a prática dos conhecimentos básicos de Traumatologia, adquiridos na faculdade. Ao
final de três meses o Prof Rivo Vieira (in memoriam) me convidou para continuar acompanhando os seus plantões. Fiquei encantada pela Ortopedia e Traumatologia. Eu via resolutividade! Era isso que queria: resolver, corrigir! Acho que foi assim com Nicolas Andry!
Não tive! Sabia da existência de uma maranhense ortopedista que morava no Rio de Janeiro, Dra. América. Encontrei com ela num CBOT e me apresentei. Nunca mais me senti sozinha... Hoje tenho orgulho de ter despertado em algumas alunas o interesse por especialidade. Atualmente somos cinco mulheres atuando em São Luís, além das meninas que estão nos mais diversos serviços de Residência Médica.
Tenho a sorte de não ter sofrido ou sofrer qualquer tipo de discriminação, preconceito ou assédio.
Talvez por ter feito residência no hospital da universidade em que fiz a graduação, pois já conhecia os professores e os colegas... não sei! Fui recebida pelos chefes e staffs com respeito e tratamento igual ao dado para os meninos, sem facilidades ou dificuldades por ser mulher. De um ou outro paciente, no início, pode ter acontecido. Se aconteceu, não me afetou! Como já ouvi uma colega dizer: “Não quer ser atendida por uma mulher? Então senta e espera o próximo plantonista, que é homem!” Lamento por quem perdeu a minha competência!
Tem destaque na minha formação profissional, alguns grandes professores que me inspiraram, incentivaram, apoiaram e que até hoje servem como meu porto-seguro na hora das dúvidas, sempre presentes: Prof. Ubirajara Martins Figueiredo (cirurgia de mão. Aposentado e atualmente mora no Rio de Janeiro, onde foi sua formação – UFF / INTO) e o seu irmão, Prof. Acyr Martins Figueiredo (ortopedista pediátrico - UFF).
Ensinaram-me não somente ortopedia, mas, a exercer a medicina com empatia. Também cito o Prof. Wanderley Vasconcelos (cirurgia de mão / INTO), com quem tenho a honra de trabalhar e aprender diariamente.
Há pouco mais de dez anos, tive o privilégio de conhecer e aprender a técnica de Ponseti no tratamento do pé torto congênito com a Dra Mônica Nogueira, ortopedista pediátrica (SP) que ensina, apoia e estimula!
Minha inspiração vem de cada um deles!
Durante muitos anos foi bem difícil! Muitos estudos para passar em concursos, plantões, família com filho pequeno..., mas sempre encarei tudo com muito bom humor, determinação e otimismo. Fui aprovada em concurso para docência e para médica do HU; em seguida, encarei o mestrado e o doutorado (tudo isso não me deixou tempo para pensar em outro filho...). Há cerca de seis anos deixei os plantões, portanto, levo a vida com menos pressa e posso aproveitar um pouco mais do convívio com a família e fazer as coisas que me dão prazer e alegria, além do trabalho.
Não existem limites na Ortopedia para a mulher! Especialidade masculina?
Isso ficou no passado! Olhem para a história do mundo, ela está recheada de mulheres que passaram à frente de todos os preconceitos! Pisem as palavras negativas e desestimulantes. Elas só nos afetam se permitirmos.
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